31 de março de 2008

O passado no porão de casa


O sorriso nos lábios, o brilho nos olhos e a empolgação ao descrever cada objeto revelam que muito amor e tempo foram dedicados à causa. Professora durante 46 anos e catequista por 52, a moradora de São José do Sul Imelda Verônica Gabbardo hoje tem outra ocupação. Aos 71 anos, há quatro ela cuida de um pequeno museu montado no porão da antiga casa em que residia.

Imelda não sabe quantas peças compõem seu arquivo. Certamente, são centenas de objetos colocados cuidadosamente em cenários como há dezenas de anos, reconstituindo quartos e cozinhas. Todos pertenciam a seus pais, de origem alemã, ou a seus sogros, que eram italianos.

O museu fica em uma casa de 128 anos, utilizado como salão de baile e, em 1921, transformado em residência pelos sogros de Imelda. Quando a aposentada casou com Cestilho, em 1957, se mudou para o lugar e morou lá até 1992, quando o casal construiu uma nova casa nova. A morada centenária passou a ser usada como depósito.

“Eu tinha uma empregada que trabalhava muito e, um dia, ela sugeriu que a gente limpasse e pintasse o porão”, conta a são-josense, relembrando como começou a organizar o antiquário. Muitas coisas que tinha em casa e utilizava no dia-a-dia, a ex-professora limpou, restaurou e colocou no museu.

Doações e visitas ao museu
Imelda lamenta ter demorado a dar valor aos objetos antigos. “Muitas coisas coloquei fora ou doei.” Entre as peças mais queridas estão livros em alemão e italiano, utensílios de cozinha, aventais, colchas e panos de parede do enxoval da sua mãe. Alguns objetos, ela ganhou ou trocou com as irmãs e com as cunhadas. Outras, a aposentada deixa de utilizar em casa e leva para o museu.

Muitos procuram a família Gabbardo para comprar antiguidades, mas a são-josense não põe nada à venda, pelo contrário, aceita doações. A comunidade local e escolas organizam visitas ao espaço.

Para Imelda, cuidar do museu é um prazeroso passatempo. “Fico decorando, limpando, mudando os objetos de lugar. Gosto de arrumar e recordar cada momento. Só espero que Deus continue me dando forças e saúde para continuar”, afirma, destacando o desejo de que seus filhos dêem continuidade ao seu trabalho.

24 de março de 2008

De ouvidos e coração abertos para a arte



Quando tinha apenas dois anos, um surto de sarampo tirou a audição de Sandra Gausmann Pfitscher, hoje com 58. “Naquela época, não tinha vacina”, recorda. Percebendo a dificuldade da filha e sem a opção de escolas especializadas, o pai de Sandra logo se preocupou em ensiná-la a ler lábios e a pronunciar as palavras, desenvolvendo a fala. Atualmente, Sandra se comunica muito bem com suas alunas de artesanato da Oficina Municipal de Artes (OMA) de Salvador do Sul.

Foi graças à dedicação do pai que a então menina pôde cursar as séries regulares na idade correta. Sandra ingressou, inclusive, na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), onde estudou História, mas não chegou a concluir a graduação. “Era muita palestra e apresentações audiovisuais”, justifica.

Mãe e dona-de-casa
Como dona-de-casa, a artesã criou quatro filhos. Há seis anos, ela se tornou membro do quadro de funcionários da Prefeitura, atuando, primeiramente, na Biblioteca Pública. Depois, passou a lecionar as oficinas de artesanato, que ela confecciona desde os nove anos. “Como eu não podia participar de cursos, minha mãe começou a me ensinar em casa.”

Todo o conhecimento adquirido com a mãe, Sandra tem paixão por passar adiante. Além disso, as aulas são um modo de estar sempre em contato com novas pessoas. “Os filhos crescem, vão embora e a gente fica sozinha. Gosto de reunir pessoas à minha volta. Com as oficinas, me sinto bastante útil”, comemora Sandra.

Uma troca de experiências
Sandra é uma professora atenciosa, segundo a estudante Débora Becker, de 19 anos, que participa há um ano das oficinas. A artesã passa toda a semana envolvida com as atividades da OMA, ensinando crochê, tricô, fuxico, boneca de pano, bordado, entre outras técnicas. “Nunca tivemos problemas de entendimento. Só temos que ter mais cuidado para falar pausado e articulado que ela entende tudo”, conta Débora.

12 de março de 2008

Mais de 50 anos no escuro



Em sua pequena casa, com apenas três cômodos, Remigio Allebrandt escuta rádio enquanto prepara o almoço no fogão à lenha. Morador da localidade de Chapadão, interior de Brochier, o agricultor não precisa mais gastar seis pilhas grandes para ouvir música. O aparelho de som agora fica ligado à luz.

Remigio nasceu na casa onde mora, há mais de 50 anos. Até pouco mais de um ano, ela não tinha energia elétrica. Um orçamento feito em 2001 apontou que seriam necessários R$ 8.000,00 para a instalação da rede, valor que Allebrandt não tinha como pagar. Através do programa Luz para Todos, do governo federal, o agricultor ganhou um kit com o poste, caixa de luz, lâmpadas e tomadas.

Sem energia, Remigio vivia como os antepassados. Para conservar a carne, secava com fumaça, fazendo uma espécie de charque. A comida produzida tinha de ser consumida antes que estragasse. À noite, a casa era iluminada por velas, o que gerava risco de incêndio, pois a residência é toda em madeira.

Para se manter informado, o agricultor conversava com os vizinhos e amigos. Agora, Remigio sabe tudo que acontece no mundo através da televisão, que ganhou de um sobrinho, que também deu uma geladeira. “É muito bom”, resume.

10 de março de 2008

O começo

O interessante da vida é experimentar. É isso que estou fazendo. Escrever em um blog nunca foi uma pretensão, mas virou uma realidade.

Aqui está, portanto, a primeira postagem do Histórias Rurais, uma ferramenta que se propõe a ser um "diário" da vida dos agricultores e moradores de municípios pequenos do Vale do Caí.

Mais precisamente, você vai ler algumas histórias sobre os residentes de Brochier, Maratá, Salvador do Sul e São José do Sul. São relatos de como eles ainda sobrevivem do setor primário, expondo suas rotinas, experiências e superações.

Neste blog, você ainda pode enviar dúvidas sobre agricultura e sobre como é a vida nessas cidades.
Seja bem-vindo!