25 de julho de 2008

Um grande amigo


Das janelas das salas e do refeitório, as crianças gritavam pedindo uma colocação na fila. Tanta euforia era para andar em Poli, uma pônei fêmea que o aposentado Mauro Kroll comprou para a neta Rafaela, que tem cinco anos e mora em Esteio. Tio Mauro, como é chamado, é o amigão de toda comunidade de São Pedro do Maratá. Ele cuida de Poli para a neta e aproveita para divertir os alunos da Escola Augusto Ambrósio Rücker com o animal.

Primeiro a andar, Felipe Tavares Lopes, de 8 anos, estava com um certo receio de andar na pônei, mesmo já tendo convivido com os cavalos que seu pai usava para trabalhar. Cheia de coragem, Danieli Cristine Willers, de 7 anos, contou que já anda em cavalos grandes, por isso não tem medo do pônei, mesmo sendo a primeira vez que montava na espécie.

Tio Mauro ajuda como pode a escola da localidade onde mora. “Minha esposa é professora aposentada. Sempre acompanhei o trabalho dela, por isso, sei das dificuldades que os educandários enfrentam para oferecer coisas diferentes aos alunos.” Esta vontade de ajudar fica nítida no semblante de Mauro, cujos olhos brilham quando vêem o sorrido das crianças.

Há cinco anos, Mauro se aposentou pela Companhia Petroquímica do Sul (Copesul) e optou por viver em Maratá, em uma chácara em São Pedro. “A comunidade me aceitou muito bem”, relata o marataense, que integra o Centro de Tradições Gaúchas (CTG) local, Encontro das Águas.

Tio Mauro tenta contribuir da forma sempre. Na Semana Farroupilha do ano passado, ele e outros membros do CTG levaram a Chama Crioula até a instituição, fizeram churrasco, ensinaram a encilhar e andaram à cavalo. “Eu vim para somar”, resume, enquanto puxa conversa com os estudantes.

Resgatando antigas brincadeiras
Para a Gincana Colonial, quando é comemorado o aniversário do município, Mauro fez um carrinho de lomba e depois doou à escola. Em todos os recreios, Bruno Metz, de 11 anos, é o responsável por pegar o brinquedo, organizar a fila e guardar o carrinho. Gabriel Luís Krug, de 8 anos, gostou tanto da idéia que fez um para ele ter em casa. “É muito legal”, resume.

O aposentado também comprou uma charrete, que pode ser usada para entretenimento das crianças, e já se ofereceu para fazer outros brinquedos, comuns na sua infância. Ele destaca que é uma forma de resgatar antigas formas de diversão, que os alunos de hoje em dia não conhecem. “Eles só querem saber de jogos eletrônicos”, observa.

16 de julho de 2008

Em nome da fé



Em fevereiro de 2008, com 17 anos e recém-formada no Ensino Médio, Daiane Aline Ertel tinha muitas dúvidas quanto ao seu futuro. Não era, porém, dúvidas comuns aos jovens da sua idade. Ela estava dividida entre a vida leiga e a religiosa. A decisão ocorreu ainda no mesmo mês, quando ela se mudou para Canoas e se juntou às irmãs da Divina Providência. Como se deve imaginar, a escolha não foi fácil.

Para ela, que trabalhava na Paróquia Três Santos Mártires das Missões, de Salvador do Sul e coordenava o Curso de Liderança Juvenil (CLJ) da cidade, o mais difícil foi optar por deixar a família, os amigos e o movimento de jovens católicos. “A gente tem de abrir mão de muita coisa, este é um desafio a superar.”

Daiane conta que sempre pensou em ser irmã e que as pessoas mais próximas sabiam deste desejo. “Mas quase ninguém acreditava realmente que eu fosse para o convento.” A jovem revela que apenas uma pessoa disse para ela não ir, mas os demais deram apoio para que ela tivesse esta experiência.

O chamado de Deus
Para os católicos, a vocação é um chamado de Deus. O mais difícil, na maioria dos casos, é entender este chamado e saber respondê-lo com sabedoria. Para fazer a escolha certa, é preciso pensar muito, evitando tomar uma decisão precipitada. Foi o que Daiane fez.

Quando pequena, a salvadorense atuava como coroinha. O início da caminhada na Igreja foi seguida pelos irmãos menores e Daiane começou a acompanhá-los. Nesta convivência com o meio cristão, ela conheceu irmãs da congregação Imaculado Coração de Maria, que a convidaram para conhecer o convento.

“Fui a diversos encontros e lá tive um discernimento de que era isso que eu queria, pois fui conhecendo o carisma da congregação e os projetos desenvolvidos pelas irmãs.” Daiane revela que, nos retiros promovidos nos conventos, são realizadas dinâmicas que ajudam os jovens a conhecerem a instituição e a si mesmos. “Quando voltava dos encontros, dizia que era isso que eu queria, mas passava um tempo em casa de novo e já ficava em dúvida”, conta Daiane, enfatizando que isso é natural.

Como ocorre em um casamento, a vida religiosa exige que a pessoa que se esteja aberta às coisas novas e que ela não tenha preconceito, mas coragem de assumir esta vontade. Apesar de ter decidido ir para um convento, a jovem revela que ainda não sabe se será irmã. “Estar indo para lá não quer dizer que serei religiosa, depende de como vai estar no meu coração e de como vou me sentir. Esta dúvida vai permanecer por um bom tempo.”

Uma pessoa normal
A salvadorense surpreendeu o rapaz com o qual se relacionava. “Eu já tinha comentado com ele sobre o assunto. Quando as irmãs me fizeram o convite para ir morar com elas, me deram uns 10 dias para pensar. Terminei com este menino logo no início deste período, para que eu pudesse refletir bem. Só depois ele soube que eu iria para o convento”, conta, observando que a relação não era namoro.

Daiane destaca que sempre foi uma jovem normal, como qualquer outra. “Sempre gostei muito de dançar e de ir a festas. Só não ia muito porque a minha família é bastante rígida.” Ela diz que, como qualquer outra jovem, se interessa por meninos e que escolher a vida religiosa não é algo extraordinário. “Muitas pessoas têm vergonha de assumir que já pensaram nisso.”

Além da coragem de reconhecer este desejo, também é necessário ter força para voltar atrás. “Ninguém precisa ser padre ou irmã se não quiser. Tem que ter coragem de voltar e dizer que aquela vida não é para mim.”

Os planos de futuro
A Divina Providência incentiva as irmãs a terem uma profissão que possa ser utilizada em prol dos trabalhos do grupo. A congregação cuida de hospitais, por isso, há freiras médicas e enfermeiras. “Elas são bastante envolvidas com a comunidade e realizam muitos projetos com crianças carente”, exemplifica Daiane, que pretende estudar Teologia e Música, para dar aulas.



A jovem conta que a congregação permite que ela visite a família e também receba parentes e amigos no convento. Ela revela, porém, que a entidade possui muitas atividades, que provavelmente tomarão seu tempo. Para matar a saudade, Daiane usará de meios tecnológicos, como MSN, Orkut, e-mails e celular, que são liberados no convento. A expectativa é a melhor possível. “Acho que tem tudo a ver comigo e acredito que vai me trazer felicidade.”

7 de julho de 2008

Cana: de fonte de renda a lazer


O trabalho com a cana iniciou há 23 anos. Odair Pedro e Erozilda de Souza possuem alambique e produzem cachaça em casa. Com a cana, também é produzido melado, schmier, bala, rapadura e até sabão. Para os moradores de Rincão dos Brochier, a atividade hoje é feita como lazer, mas sempre contribuiu para a renda da família, que também tem criação de animais e atividades ligadas ao carvão.

A matéria-prima é plantada e colhida por eles, nos fundos de casa. O processo ainda é um pouco artesanal, apesar dos novos equipamentos para o alambique, adquiridos há três anos. Embora não seja a principal fonte de renda da família, a produção de cachaça e derivados da cana sempre motivou o casal. Odair fez curso durante um ano sobre a bebida, que abrangia desde o plantio da cana até o final do processo da composição da cachaça. “Fizemos visitas em Belo Horizonte e São Paulo, para conhecer, trocar experiências”, revela o agricultor.

De Minas Gerais, Odair trouxe mudas de cana, com as quais produz a cachaça. A bebida é vendida, na maioria das vezes, por encomenda. Os agricultores garantem que o produto é diferenciado. “Temos clientes de cidades como Novo Hamburgo, Montenegro e Salvador do Sul. Muitos vêm buscar para um evento especial, para levar para praia ou para ter uma bebida diferente em casa”, conta Odair.

Para os licores, como de abacaxi e de jabuticaba, feitos cm a cachaça, são utilizados apenas frutos que a família produz. "Se fosse mais novo, investiria mais nessa área, porque gosto muito", diz Odair, esperando que algum filho ou neto prossiga com a atividade no futuro.

Tudo se aproveita
A cana pode ser dividida em três partes: a cabeça, a cauda e meio. A primeira, considerada muito forte, não é utilizada para a produção de cachaça. “É quase álcool puro, por isso é bom para fazer sabão”, explica Erozilda. Com a calda, mais fraca, pode-se fazer uma cachaça de segunda linha, igualmente boa, mas não comparada com a feita com o miolo da cana.


Outro diferencial da família são as balas de cachaça. Receita que Erozilda guarda em segredo. “Eu trouxe de Minas Gerais”, diz Odair. “Acho que só nós fazemos na região”, arrisca.